Somos feitos e reagimos segundo nossas tendências, e essas por sua vez são construídas por nada menos que: nossa hereditariedade ( influências de mãe e pai), nossas percepções e forma de compreender o mundo (que em grande parte está consolidada dentro de nossas características de leitura do mundo) e outro tanto está impregnado com nossa leitura e percepção sobre as ações externas que chegam até nós, nos encontram e nos afetam ou não. Enfim somos um produto complexo e maravilho da mistura de nossas tendências e assimilação de nossas vivências.
A forma como agimos, reagimos e formamos um juízo de valor em como reagir a tudo o que nos permeia passa por um processamento mental para desembocar em ação ou reação falada ou não, mas incontestavelmente comunicada, através das diversas formas que usamos para nos comunicar conosco mesmo e com o mundo.
A forma como o mundo, as pessoas e tudo o que gira em torno de nós mesmos é uma leitura de como nos comunicamos conosco e com o mundo, e isso pode ser encantador ou um grande demonstrador de necessidade de ajuste de nossa parte, e essa leitura vai depender do grau de impacto que gera individualmente cada um desses fatores.
Mas, mais sub liminarmente, e o que quero dizer é, sobre o que esta por trás da cortina do raciocínio e da ação posta e expressa, são as mensagens que trazemos guardadas no inconsciente e que podem e com certeza tem grande peso para a formulação de novos padrões de comunicação ou apenas representam formas mais modernas de repedir velhos e desgastados padrões limitantes.
Quero trazer dois exemplos bem específicos de ações externas que podem ter moldado ou dado certa forma de ação para você que está na casa dos 30+. Um são os desenhos animados da década de 80 e outro é nosso glorioso mertiolate.
Sobre os desenhos quero trazer a percepção de como quem foi criança naquela época era levada a encarar a vida com verdades menos polidas e mais realistas, sendo colocada e convidada diariamente a elaborar sobre questões do dia a dia meio com _ “a novela da vida com o que tem fora da sua casa”. Eram desenhos sarcásticos, politicamente incorretos e com um toque até do que os mais radicais podem retratar como maldade encarnada. Pois bem, o que me faz citar esse tipo de programação infantil não é o conteúdo nem mesmo me deter em definir certos e errados mas trazer uma construção e um olhar sobre o que poderia ser construído e o que foi com certeza um dos fatores(e não o único certamente) uma grande ferramenta de elaboração infantil e até preparação parcial para a vida no Mundão de Meu Deus como dizem.
Assistir a cenas ainda que alegóricas de ações tão humanas como competição, barganhas e até maldade colocava as crianças consumidoras do conteúdo em contato com um contexto humano muito exercitado, diga-se de passagem até hoje (infelizmente) mas que por ser inapropriado, foi considerado como produto que não poderia ser consumido ou viabilizado.
O ponto a ser levantado aqui é uma regra geral para qualquer ser humano _ temas abordados de forma construtiva abrem espaço para elaboração antecipada e estruturação da percepção de construção e empoderamento, porque gera clareza sobre a realidade e possibilidade de comunicação sobre ela. Trocando em miúdos o que quero dizer é : informação dada é fonte de elaboração para o cérebro consciente e instrumento de resolução para o inconsciente.
Quando somos expostos a um certo tipo de conteúdo podemos criar medos, fobias, mas também temos um grande campo para absorver e fantasiar com aquilo criando ainda que hipoteticamente ações no “e se”_ e se acontecesse comigo eu faria assim ….._ esse tipo de elaboração nos traz a capacidade de lidar com as indigestas ações externas e entender que há saída e há força de resolução.
Entendo que os conteúdos expostos naquele tempo poderiam ser expresso de forma mais polida, mas mascarar completamente as mazelas da personalidade humana e proteger as crianças e adolescentes desse tipo de conteúdo não é proteção, é enfraquecimento a conta gotas.
Todas as vezes que deixamos de permitir que uma certa quantia de informação realista, ainda que polida ou fracionada possa chegar aos nossos filhos e filhas estamos contribuindo para um imenso caráter de casca de ovo, como gosto de chamar.
Caráter Casca de ovo se reflete em pessoas que pensam ser completamente frágeis (quebradiças, desmanchastes ) e não conhecem o poder de sí mesmo, temem ser expostos por medo de fracassar ou ser consumido e isso me mostra o quanto foram “poupados” durante grande parte de sua vida e principalmente infância e adolescência.
Pense, o quanto você assistiu a conteúdos como os desenhos citados e como você lidava com suas dificuldades quando criança. Perceba se era equivalente ao que via, se você tinha mais a tendencia a acreditar em sí e conseguir elaborar dificuldades de forma mais livre e resoluta. Construiu-se uma comunicação de você com o mundo, ainda que interna, que te fez entender que coisas chatas e até ruins aconteciam, mas que você conseguiria dar conta, porque teve a oportunidade de elaborar sobre ela, você teve tempo de se comunicar com todos os contextos que sua mente infantil ou adolescente teve contato e pode ajustar seus sentimentos, frustrações e ações sobre aquilo.
Sobre a analogia ao Mertiolate, que é o segundo tema que gostaria de trazer para elucidar o ponto, perceba a construção psíquica e mental que pode haver em pequenos atos do cotidiano. Houve uma época em que talvez o único anti-séptico disponível para grande parte da população era nosso glorioso mertiolate. Gosto de pensar que ele nos ensinava a verdadeiro sentido do “ tudo pode ficar bem pior”. Sim porque alem de vir com uma pá de aplicação de um plástico super duro que machucava o machucado, o liquido em si produzia uma dor excruciante quando colocado nos ralados de carne viva.
Mas entenda a construção que quero trazer. Através das praticas cotidianas de um simples mertiolate havia muita construção de caráter. Quando a criança ia crescendo invariavelmente ela se negava que outros cuidassem de seus ferimentos (quando possível), eu mesma quando me machucava ia ligo gritando – ninguém põe a mão, deixa que eu faço.
Esse ato não era um ato de heroísmo mas de enfrentamento. Eu sabia quanto era minha dor, quanto eu suportava e quantas vezes precisaria de pausa para limpar e arrumar meus machucados _ ninguém sente nossa dor _ e isso era uma força importante o bastante para que eu tomasse a frente e cuidasse de minas feridas, ainda que depois me consolasse no colo de um adulto e ganhasse carinho.
Existe nessa construção a elaboração, reconhecimento e auto cuidado de suas dores. Isso é o mesmo que buscamos e promovemos todas as vezes que procuramos por ajuda terapêutica, certo?
O que quero trazer com os dois exemplos não é levantar uma construção em defesa da nostalgia, mas criar uma percepção de que damos conta de nossa vida e nossas vivencias e quanto mais cedo começarmos a ser convidados a nos deparar e acolher nossas dores mais fortes ficaremos para esse enfrentamento e o mesmo acontece com as realidades cotidianas da vida também.
Escolha para sí e para quem você ama a opção do dar a força. Quem ama entrega força para que o ser amado siga e cumpra seu destino, seja ele qual for. Carregar a vida dos outros ou evitar a qualquer custo as vivencias de quem amamos e as nossas mesmo só criará seres que pensam ser fracos e não compreendem ou conhecem sua força.
Trazer doses homeopáticas de realidade as nossas crianças e adolescentes é um convite a vida emocional saudável.
Aos adultos, reaprender sobre a melhor versão de sí mesmo hoje é contemplar e se fortalecer com as vivencias aprendendo com elas. Não conseguimos e ainda bem nem podemos recriar o passado, mas podemos tomar a força que existe nele para nos fortalecer e fazermos um novo presente. Esse tipo de ação é a primeiro passo para a transformação de sua comunicação com sua vida e com as pessoas ao seu redor.
Você deu conta, como eu sei? Você está aqui lendo esse texto e esse pode ser o ponto de partida para um ajuste de comunicação que te leva para a força de sua vida.